Pro meu amigo West
Será que a mais longa e mais profunda recessão desde a Grande Depressão um dia terá fim? O cintilar dos faróis de um bando de supercarros capazes de passar dos 320 km/h no fim do atual túnel escuro diz “sim” e “em breve”. A Ferrari lança seu 458, sucessor do F430, e a Mercedes-Benz ataca com o irresistível SLS AMG Gullwing. O McLaren MP4-12C que brilha nessas páginas deve ajudar a elevar os indicadores econômicos em algum momento de 2011.
Até agora, a McLaren permitiu apenas dois breves acessos a uma maquete do MP4-12C como um aperitivo para o banquete tecnológico que ela planeja servir em menos de dois anos. Decodificar o nome nada evocativo dá uma dica de qual será o menu. A parte do MP4 vem da designação de chassis que a McLaren tem usado em seus carros de Fórmula 1 desde 1981. O 12 é um índice interno relacionado com a dedicação da empresa à potência, peso, aerodinâmica e eficiência geral. E o C celebra o compromisso com a tecnologia da fibra de carbono para futuros carros esportivos.
Bruce McLaren plantou as sementes do que desabrocharia na forma do Grupo McLaren em 1963. Logo após chegar à cena britânica de corridas em 1958, o neozelandês provou ser um dos pilotos mais rápidos do mundo. McLaren ganhou Le Mans (dividindo um Ford GT40 Mark 2 com Chris Amon em 1966) e conquistou vitórias em categorias que foram dos leves monopostos às trovejantes máquinas da Can-Am.
Os colegas assumiram a causa após McLaren morrer em consequência de um acidente durante um teste em 1970, e a organização que ele fundara cresceu para ser um dos principais times de competição do mundo. A McLaren Racing venceu oito títulos de construtores da Fórmula 1 e doze títulos de pilotos. A mais recente coroa de construtores foi adicionada à estante de troféus em 1998, e Lewis Hamilton pilotou o McLaren MP4-23 para o título de pilotos em 2008.
Acostumada a carros de rua, a McLaren construiu cem F1s (28 com acabamento de corrida) e mais de 2100 Mercedes-Benz SLR McLarens (incluindo as variações 722, Roadster e Stirling Moss). O expatriado Americano Antony Sheriff, diretor-gerente da divisão automotiva da McLaren, orgulhosamente guiou nosso passeio pelas áreas não restritas do Centro de Tecnologia da McLaren, uma instalação de engenharia no nível da NASA em Woking, Inglaterra, onde os bólidos MP4-24 da Fórmula 1 e os SLR de passeio são fabricados e onde o trabalho com o MP4-12C começou em 2006.
Para levantar os 400 milhões de dólares necessários para uma mova fábrica, para garantir o ferramental de produção e para completar o desenvolvimento do MP4-12C, o braço automotivo foi recentemente desmembrado do Grupo McLaren que o gerou. As cinco divisões restantes – Corridas, Marketing, Sistemas Eletrônicos, Tecnologias Aplicadas, e Absolut Taste (um empreendimento de bufê) – são de posse da Daimler (40%), uma holding do Bahrein (30%), o investidor Mansour Ojjeh (15%) e o presidente do Grupo McLaren, Ron Dennis (15%).
Embora Gordon Murray, o brilhante engenheiro que projetou diversos sucessos na Fórmula 1 e o F1 de rua, tenha deixado a McLaren antes do trabalho no MP4-12C começar pra valer, seus padrões exigentes de peso e eficiência aerodinâmica são claramente evidentes neste projeto. A potência é fornecida por um motor V8 3.8 biturbo com intercooler e comando duplo de válvulas entranhado no centro do carro atrás de uma espaçosa cabine de dois lugares.
Muitos detalhes ainda são segredo, mas Sheriff revelou que o motor chegará a 8.500 rpm e a potência máxima será de cerca de 608 cv, com 80% dos 60,8 mkgf do pico de torque disponíveis aos 2.000 rpm. Há um sistema de cárter seco, um virabrequim de 180 graus, tempo de abertura variável de válvulas, mas a injeção direta de combustível ficou pelo caminho. A revista britânica Autocar recentemente especulou que esse motor pode ser um Mercedes V8 modificado pela firma alemã de engenharia Mahle.
Uma caixa de câmbio de sete marchas e embreagem dupla entrega a potência às rodas. Getrag, Oerlikon Graziano e Ricardo encabeçam a lista dos potenciais parceiros de desenvolvimento, mas Sheriff se recusou a identificar o especialista em transmissão que será responsável por fabricar o câmbio do MP4-12C.
A McLaren foi pioneira no uso de compostos de fibra de carbono em pontos estruturais chave em seus monocoques de Fórmula 1, em 1981, e em seu carro F1 de rua, em 1993, então essa experiência naturalmente se reflete no MP4-12C. A corpo central é um molde em estrutura oca de 78 kg feito com processos exclusivos de transferência de resina. As estruturas suplementares de alumínio nas duas extremidades do carro suportam o chassi e os sistemas de propulsão. As portas em estilo borboleta são outro detalhe herdado do F1. Elas devem fornecer acesso fácil para a cabine de dois lugares e chamar a atenção que os donos de carros exóticos esperam.
Para manter o peso final abaixo dos 1400 kg esperados, o MP4-12C tem uma mistura de alumínio e fibra de vidro na carroceria, duas vigas reforçadas de magnésio, estruturas dos bancos de magnésio e um sistema de condicionamento de ar feito sob medida. Os radiadores centrais são alimentados por enormes aberturas laterais equipadas com aletas. As colunas frontais são reforçadas com tubos de aço de alta resistência. Para economizar o peso e complexidade das barras antirrolamento, o movimento da carroceria (inclinação e rolagem) é verificado pelos amortecedores controlados eletronicamente.
A asa traseira não apenas ajuda a colar os pneus da tração ao asfalto, ela também serve como um freio aerodinâmico. Os freios de cerâmica são opcionais. Os pneus de dezenove polegadas na frente e vinte atrás serão fornecidos pela Pirelli. Os alvos de desempenho incluem aceleração de 0 a 100 km/h em menos de quatro segundos e uma velocidade máxima de pelo menos 350 km/h.
A cabine tem uma estreita tela sensível ao toque no alto do console central, um volante de diâmetro pequeno e uma tela eletrônica configurável em um compacto painel de instrumentos. Os comandos na coluna de direção para o computador de bordo e controle automático de velocidade são feitos em alumínio. Um par integrado de borboletas de câmbio se conectam a um ponto central na coluna de direção. Em vez de usar uma abordagem de mouse e menu ou de múltiplos botões para comandar sistemas importantes, um botão giratório gerencia as variáveis do chassi e outro muda as configurações do trem de força. Os controles climáticos ficam localizados nos painéis das portas.
Após “dirigir” o MP4-12C virtual no simulador da empresa por dezoito meses e realizar testes exaustivos de candidatos a formas em um modelo em escala de 60% no túnel de vento, a equipe da McLaren fabricou duas dúzias de protótipos para testes. O teste de fogo consistiu em 1.000 horas contínuas dia e noite de testes de pista. Protótipos de verificação usando majoritariamente peças de produção serão construídos no próximo ano. Um volume planejado de vinte carros por dia em alguma fábrica ainda não construída deve equivaler a cerca de 4.000 carros por ano. As vendas nos Estados Unidos devem responder por um quarto do volume de produção.
Com a Ferrari 458 na alça de mira, a McLaren espera que o preço do MP4-12C fique entre 200 mil e 300 mil dólares. Projetos adicionais incluem um conversível, uma edição de desempenho ainda maior no estilo do F1 e um híbrido capaz de transferir a atual tecnologia do Sistema de Recuperação de Energia Cinética (KERS) das pistas da Fórmula 1 para as estradas. Nossa parte nesse concurso de beleza é rezar para a economia mundial se recuperar para que os ambiciosos sonhos da McLaren se tornem verdade.